quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

RETIRO Em volta tudo turvo, minas entre as flores perdidas no trajeto. Me volto para o meu mundo interno e intenso. Pairam as certezas sobre as dúvidas, as neblinas vão aos poucos se dissipando. A bagagem vai se tornando desnecessária, menos peso para carregar, consciência tranquila, alma livre. Olhos são faróis atentos que não se apagam um minuto se quer, queira ou não, deixar-se iluminar é uma tarefa difícil de se cumprir. Me acostumei a perceber o mundo através da ótica do outro, ajudar o outro, iluminar o outro. Chega um tempo em que as lâmpadas se esgotam, chegou um tempo em que não pude enxergar uma palmo a dentro de mim. Fiquei no escuro. Muito me dei, me entreguei, não lamento, aprendi! Aprendi a essência da vida, que ao longo do seu curso o rio se renova, até chegar ao seu fim, ele não é mais quem um dia foi. Reflito sobre isso, percebo que ser eu mesmo é mesclar o que sou com o caminho que trilho, faço o caminho inverso, quantas vezes tiver de remar contra a correnteza. Quantas vezes forem necessárias derramarei meu pranto, para que afogue as mágoas sem dar chances de fincarem suas raízes dentro de mim. Vou além, sou atrito contra as pedras. Sou a queda na cascata. Sou o leito e a corredeira. Sou a água que sacia e que afoga. Que trafega e que recua em tempos de seca. Já me esvaziei de mim! Sou, simplesmente. Córregos e represas. Assim me retraio, o mundo à minha volta me manda notícias, preciso respirar bons ares. Renovar meu oxigênio, preciso encontrar meu repouso. É quando encontro em mim o meu retiro. Revitalizo minha alma, corpo e mente. E num simples exercício, medito. Me encontro comigo, passeio pelas veredas e rochas das minhas vidas. Descubro o som do silêncio, escuto em minhas veias o sangue correr, neste lugar, o som mais estrondoso é o das batidas do meu coração. Que leveza... Como as folhas que absorvem e filtram o ar que respiramos. Posso sentir em meus poros o calor me tomar célula por célula me enchendo de energias, fortificando minhas raízes. Meu caule, meus galhos. Cumprindo minha função - com sombras, frutos e sementes... até que um dia eu me torne um banco de praça ou moldura de uma obra de arte, quando não, um simples cabo de vassoura. Só eu posso saber a minha importância, sem que o vejam, sem que aceitem quem sou, sem que dependa disso para sobreviver. Quero ser, cítrico ou amadeirado, não importa o meu perfume, quando eu secar virarei lenha. E até o fim, cumprirei minha função nesta vida. Morrerei brasa, renascerei chama. Sou a mansidão e o conflito em um mesmo frasco. Uma dose de coragem, outra de discórdia, pronto - eis a contradição perfeita! Porém, não abro mão de ser medo e introspectivo quando necessário. Neste jardim posso ver de tudo, agora que escureceu e faz frio vejo cumpro passo a passo do que sou, me acendo para aquecer e iluminar, meu incenso perfuma o ambiente, escorro livre campo abaixo. Tudo o que desejo, o que vejo, o que sinto e o que percebo é simplesmente o que sou. Minha dor é um cataclismo. Dentro de mim é o lugar mais seguro. Daqui irradio-me. Não há espaço para sofrimento algum. Assim sigo meu curso ... Binho Cultura

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